Avaliar os Pais


Claro que quando a Medusa Ministra sinistra e 'sesuda' anuncia o novo menu de avaliação dos Professores, os nossos Sindicatos bufam, mas preparam-se para comer e calar.

A negociação está já viciada à partida, a classe é desigualitária, tem prioridades distintas, consoante a situação no Sistema Educativo, está dividida e tem mais buracos que um queijo suiço, devido aos bombardeamentos ministeriais acossada pela doxa vigente.

Mas é de louvar que uma ministra seja tão irrepreensível no que toca a tácticas e a sentido de oportunidade politburianas, nem a melhor rata de sacristia para levar a água ao seu moinho.
Ó ministra com tomates heróicos! Oh, mulher de ferro, Theatcher de Portugal! Que fizeram os efeminados ministros que te precederam? A quem cederam, por quem se ajoelharam e, passentos, se renderam? Tu, não. Embora mulher, és homem. Parabéns!

A verdade é que já há uma avaliação não-oficial e permanente, em cada escola do desempenho de cada professor. Ela corre à boca pequena e tem sempre pormenores picantes: o que está em causa é a imagem do professor A e do professor B. A imagem de cada docente não resume holisticamente o animal e é como uma marca de ferro em brasa, dói e é indelével.

Mas quando mentes peregrinas, para efeitos de progressão na carreira, se lembram do que os pais possam ter a dizer avaliativamente do desempenho dos professores e que estes devem ficar calmos porque não vai doer, eu parece-me que já estou a ver todo o absurdo em movimento: «pais reprovam progressão de carreira a professor, alegando incapacidade para ensinar química, cabelo demasiado comprido, dificuldades em estabelecer disciplina na sala de aula, unhas grandes, mau hálito e o péssimo hábito de dar níveis negativos aos seus mal-educandos».

Depois já podemos imaginar cairem abutrinamente os jornais sobre o cadáver imóvel na carreira do professor: «Não é nada verdade que eu tenho mau hálito, aliás este ano ficou provado quimicamente como se podem iludir e até ludibriar os centros de cheiro...»

Ora eu, que até já tive uma mãe, uma certa vez em que fui director de turma, que me assediou telefonicamente durante meses, seduziu na forma tentada e comoveu, mentiu, manipulou habilmente, tudo para que o seu filho com asma, recordista das faltas e da preguiça, transitasse, alegando que ele era doentinho, que tinha um retardo e outras patranhas, mas com documentos na mão a condizer e tudo, vou lá um dia ser avaliado por pais que tanto podem ser honestos e honrados trabalhadores, como rufias, arruaceiros e desequilibrados do juízo, capazes de tudo para tramarem a boa fé de um pobre professor sem rede?!

A ministra sinistra e sisuda Medusa é um rio de azia para a classe docente.

Os professores são a gente mais cigana e vulnerável do país: há um Ruanda, um Kosovo em decurso quanto à carreira docente. A pouco e pouco haverá menos alunos, menos lugares, mas é o Ministério, dividindo para reinar, que faz de prensa e nos comprime para fora do território de sermos deixados em paz, como os médicos, os trolhas, os enfermeiros, os picheleiros, ou os yuppies dos bancos.

Joaquim Santos

Comments

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