TEMPO DE SOPA














Depois de ter visto hoje
na estação General Torres, em Gaia,
uma família a fazer a sua higiene matinal
num fontanário que, por cima, lá está,
borbulhante, rico, municipal, alegre,
depois de ter visto a gorda mãe, o pai gordo e o moço magro,
os três - eram sete e quarenta da manhã -
fungando e cuspindo,
passando água gélida pelos rostos e o cabelo,
- era uma manhã muito fria -
chapinando e espirrando,
enquanto a pé, de metro, de carro, de autocarro,
um resto de povo idoso,
uma minoria de juventude,
todos em geral reformados da realidade,
meneava a cabeça
e descaía os beiços desaprovadoramente;
depois de ter compreendido que eram romenos
ou ciganos, ou as duas coisas, os que se lavavam,
ficou claro que o nosso mundo estilhaça de infantário,
ficou claro que a sopa dos pobres transborda
e é para comer fronteiriça toda.

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