INSURGÊNCIA


Contra tudo e contra todos,
alçarei os punhos,
punhos bem fechados hoje.
Os punhos fechados hoje
é uma esperinha verbal aos ladrões públicos, às mentiras públicas,
à treta que os ingénuos engolem - 0,4 % menos pendências na Justiça? Bahh!
Tretas e mais tretas! Resultados da treta.
Esta mentira enorme que é Portugal!
Portugal anedótico,
Portugal fisico-quimicamente impróprio para consumo
tetraplégico do para onde ir,
Portugal das empregadas despedidas, lançadas fora, depois de gastas,
se grávidas, se doentes crónicas, se com problemas nas válvulas mitrais, se com um tumor no cu, rua, que cada qual só vale o que vale, só vale o que tem, só vale o que produza,
portanto, não vale nada;
Portugal dos manhosos, falsos, desequilibrados e invejosos do outro no local de trabalho,
enchendo de psicótico, de denúncia pidesca,
de descabelamento, desproporção e despropósito
o teu dia-a-dia de trabalho;
Portugal dos Zé-Maneis Figueiredo-Café com Leite,
esses canoros paneleiros inúteis, esses animais do Tribunal, esses complicados, esses nojentos, esses sebosos,
sempre a atrapalhar a pouca normalidade que há em Portugal com a anormalidade de serem perfeitos filhos da puta, cabrões do litígio gratuito e evitável!
Portugal pequenino a comparar-se com gente.
Portugal sem camas de hospital urgenciais, mas com OTA's, mas com TGV's,
nessa salivação subdesenvolvida por tudo o que é moderno, desenvolvido e alheio.
Portugal, sempre tão megalómeno e sempre tão roto, país pobre, país-favela,
de gente, os cabrões,
cada vez mais rica;
Portugal das taxas moderadoras na Saúde e directorias-gerais imoderadas nos ganhos,
nos prémios da inutilidade,
Portugal das benesses e favores, da desmatação selvagem
com vista ao lucro fácil da construção civil,
Portugal espremido de défices, de deficiências e definhamentos sociais,
mas sorridente e luzidio a propósito das desmaternidades,
o pão do desânimo é Portugal,
a côdea do nada é Portugal,
Portugal, filho da puta para os portugueses,
esses desinformados e afadigados de trabalhos que não dão por nada, que não se sentem,
mesmo acabados de enrabar,
ó coragem tão elogiada de fodê-los bem,
que anda a acometer estes executores políticos de hoje;
Portugal dos empresários mercadores de escravos,
dos sonegadores de umas migalhas de euros a mais em cada salário de merda que pagam,
a mulher de limpeza que limpa até ao reumatismo,
o torneiro mecânico que manipula máquinas até ao esfolamento dos dedos,
Portugal, empregador de imigrantes, a quem fica a dever vencimentos,
a não ser que uma faca se lhe encoste à carótida desonesta,
porque só assim é que é já a seguir.

Portugal futebolíneo, ronaldesco, mourinhado e nada mais,
Portugal que se abaixa em tudo ao futebol, que autoriza tudo em nome do futebol,
das pequenas estrelas adolescentes vilãs na escolas,
dos pequenos tiranos adolescentes adulados e à solta nas escolas
por serem activos humanos e grandes promessas de ganho dos clubes grandes de futebol;
Portugal ganancioso e a cagar-se para a ética e para o bom senso;
Portugal cheio de mediocridade adulta por cada idoso abandonado,
que tem de pagar (e falta quem se abaixe) para que lhe limpem do cu a merda,
pois não há filho ou neto que lhe valham,
estão longe, a masturbar-se diante das roupas de marca.
Portugal inexistente e risível no meio do mundo que desconhece que Portugal exista,
Portugal que finge jackpotes, que brinca aos totalistas que não se vêem em lado nenhum,
Portugal dos barramentos informáticos a quaisquer prémios em apostas múltiplas,
Portugal do faz-de-conta das lotarias e das raspadinhas que não saem nunca a ninguém,
Portugal que chupa o sangue aos bebés... esses inimigos terríveis do laré adulto,
empata-fodas do caralho, os empecilhos,
Portugal recordista do matar mais um!
Portugal, poço-sem-fundo dos casinos e das casas de putas com classe,
as casas e as putas, o céu da dança-do-varão em terra de monótonas e frígidas fêmeas,
putas romenas, lituanas, polacas, ucranianas, russas, sul-americanas, africanas,
putas para todos,
elas, que se sentam ao nosso lado,
elas, que se vêm roçar em nós,
elas, que efectivamente roçam em nós,
elas, que nos põem a mão
e nos tocam e dançam despidas, despindo-se,
diante da baba que nos acontece por isso mesmo,
a nós, que nunca vimos uma mulher,
a nós, que nunca vemos pessoas na mulher,
a nós, que só vemos nelas os apetrechos-mamas, só o acesório cona, só o aparato fêmeo,
a nós, que parecemos deputados extremamente profissionais e compenetrados
em gritar aqui-d'el-reis de protesto no Parlamento
das nossas erecções desesperadamente activadas por elas
para urgências de glória fodilhona aprazível num espaço privado
perfeitamente do conhecimento público,
nada que sessenta ou seissentos euros não paguem.

Portugal, ah, ah, ah, Portugal de esquerdistas-marxistas perdidos, dinossauros do equívoco que matou milhões,
de esquerdistas-marxistas do umbigo para baixo, marxistas perdidos esquerdistas, dinossauros, mas estalinistas-leninistas do caos antidemocrático do estômago para cima.
Portugal-de-rir nos telejornais e nos concursos das TV's, mas de rir à gargalhada,
tal a miséria por dentro em tudo.
Portugal de chorar.
Portugal do agora é que é, mas que nunca é.
Portugal que engana, que trai, que tece quantas partidas e patranhas há
aos portugueses,
à gentalha,
ao fornecedor do voto,
ao mal necessário.

Eu não mereço tal Portugal.
Tal Portugal não é digno de mim.
Este Portugal é dos espertos e dos cabrões.
Não nasci apetrechado com tais características fundamentais e lógicas,
por isso já estou pronto para morrer pobre e completamente inglês,
inteiramente estrangeiro para esta merda.
Este Portugal não é digno de mim.
Este Portugal esperto e cabrão devia beijar o chão português que piso,
é ele, porém, que me pisa a mim.
Dá-me náusea que uma terra como esta,
depois de tanto me ter fodido e defraudado,
a mim e a muitos,
me vá ainda por cima comer um dia.

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