CIRCULAÇÃO REDOMA


A lua ergue-se baça entre o baço azul
e a humidade, misturada à brisa,
vem meter-se-nos pelas narinas,
namoro de um aveludado espírito brando
com um mortal.

Morre o dia,
vozeiam homens e mulheres,
ecoa-se-lhes a voz pelas praças,
entre paredes altas
e há aves que cantam,
ecoando os seus trinos nos espaços;
motores vibram como um regresso lasso,
a erva enche o horizonte de um verde excessivo, doce,
grito rouco de um verde muito cor,
de uma frescura muito luz.

Os casais recolhem-se,
talvez as pernas se estiquem,
os ombros descaiam num sofá...
Talvez a tensão não abrande,
as discussões comecem,
a cor seja o negro dos queixumes
que se remordem,
que vêm à tona, antigos,
lavas rubras do ressentimento,
deslizando lentas,
larvas negras do azedume,
decompondo a carne do ante tempo.

Não circular aí a esperança,
ainda que os olhos se revistam de cinza e o enxofre seque as gargantas
- no grito saído laminado, serrilhado, ferino,
não circular aí a seiva da esperança,
como estes braços, como estas hastes,
aguardam luz mínima, mínimo alimento
sem que lhes faltem.

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