DE COMER


Sonhei que acordara num país estercado
de silêncios e conivências.
A Procuradoria-Geral estava na mão corrupta
de políticos não-sérios com objectivos claros de o-povo-que-se-foda
e a verdade-que-se-foda-também que outros valores mais altos se entusam.
Os políticos sérios não tinham o apoio de quaisquer forças significativas
e eram ridicularizados em artigos de opinião e em certos blogues
de autómatas opiniões negativizantes sobre gente competente.
A massa envelhecida de Portugueses resignava-se ao bacalhau
garantido com batatas e ao peixe cozido com garantidos grelos
porque as suas lutas por Pugresso e Democracia
já haviam acabado há trinta anos.
lj
Sonhei que o camarão grande gordo e tigre era a comida oficial
do primeiro-ministro e as suas idas ao dentista prioridade nacional.
Sonhei que o seu Gabinete de Imagem seria aumentado pelo belo trabalho de ensinar a sorrir amarelo um homem verde de desdém por verdadeiros sábios, doutores e licenciados.
Sonhei que a Ministra da Educação tinha um problema no menisco,
por isso claudicava com o corpo todo,
e não sabia Inglês nem Matemática e que ao falar Português
tinha imensas pérolas articulatórias cheias de seriedade como
"Os exames foram coroados de sucesso pá Matemática
e pó resto." Sonhei que era impossível acordar de esta merda.
Sonhei que era impossível fazer humor com esta merda.
Sonhei que esta merda era impossível
e que um povo tonto, burro, alienado, envelhecido no coração e na carne,
em grave estado de desaparição reprodutora e entusiasmo abortivo,
merecia o cimento concreto de um sonho assim.

Comments

Tiago R Cardoso said…
Joshua,
Olha que apesar de tudo, ainda conseguimos rir com a situação ou será a situação a rir-se de nós ?

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