MISS SNIQPER, BOM TOM E HIGIENE DISCURSIVA



Talvez pudesse argumentariamente quebrar-te as cartilagens
e apertar-te a garganta metafórica de me vires aqui dar lições
de boas maneiras e demonstrar-me precariamente a falta de chá, Miss Sniqper!
Talvez, com um golpe de rins brusco, te puxasse por um simbólico braço,
apertasse contra mim, nariz ante nariz, bafo de alho ante hálito a doninha,
e te mostrasse o que é dançar o tango de ter toda a razão sem espinhas
por contraponto à razão zero do teu desporto de rebaixar a alteridade
tal como é, Miss Sniqper, com os retoques que lhe queiras apor!
lkj
Não sei o que te diga do teu discurso abominável em torno do Bom Tom,
do Nível Elevado e da Decência-Decoro no discurso que, quanto a ti, me faltam!
Com o Decoro, com a Decência exterior, formal no meu discurso,
não passaria de uma besta anónima e sensaboria bosta,
obediente e servil aos Homens, muito a sós consigo mesma, como tu
e como outros muito a sós consigo mesmos e esquecidos nos seus blogues esquecidos.
Haverá algo mais sensaborão que o Kolmi? Não me parece!
Haverá algo mais injustamente relegado que a Geração de 60? Não me parece.
E porquê? Porque lá, onde parece haver a hipertrofia do bom tom e a ruborização virginal
com um par inócuo de caralhos e um feixe inofensivo de foda-se's
e um grupo inerme de puta-que-os-pariu, ditos e sublinhados com o meu afinal ar seráfico
de desterrado da Confortabilidade Social Tranquila e Proventosa
e do Elevado Estatuto Social
e da Pose de Estado
e do Cu-rrículo Intelectual,
há a Atrofia Completa do Sabor e do Insólito no dizer.
lkj
É por isso mesmo que essa tua 'classe' e esse teu 'nível' bettygrafsteiniano
é do mais piroso e inautêntico que imaginar se possa e me organiza espontâneo
um protesto dentro contra o encerramento urgente da minha urgência-maneira-de-ser
e de dizer, tal como são ambas.
Esses teus vestidos engomadíssimos
e essas tuas jóias ostentatórias de eu, joshua, é que sou doente do juízo
e excessivo e conspurcador da Razão e Ofensivo,
essas sentenças de salto alto de que eu é que sou maledicente,
essa maquilhagem requintada,
essa base barata, que enxameia de crosta o teu rosto, de que eu devo tirar o link Kolmi
da minha lista de links moribundos e irrelevantes, é de uma insegurança atroz,
insegura e frágil como estar vivo.
lkj
Caríssima e irrelevantíssima Miss Sniqper,
foi uma grande vitória poder beijar-te na boca opinativa,
onde mora sempre um desdém comprador e um asco que adora.
Pois se gostas de mim tal como sou, qual é o problema em admito-lo?!
Para que hei-de corrigir o perineo do meu verbo inconoclasta, porque o sugeres?
Para que insistes na vaginoplastia da minha maneira de ser, regulamentando-a?
Porquê a vulvoplastia do meu discurso com "foda-se's" dentro e "vai-te foder's"?
Para que hei-de reconstituir o hímen do meu dizer com sabor, só por tua causa?
Para que hás-de prescrever-me a lipoescultura da minha região púbica essencialmente minha?
Podias ter mantido e dar-me o benefício da indiferença,
mas não resististe a declarar-me a tua atenção por mim, e a definir-me,
não podias resistir a prescrever-me tratamento, internamento e a declarar-me sujo.
Tal espírito de intrusa invasão e de pressuposição abusiva dos outros
é que é notoriamente degradante e poluente em ti, Miss Sniqper e gente equiparável!
lkj
Vires até aqui poderia parecer o pegar pela ponta dos dedos num dejecto canino,
acto civilizacional excelente, agora tão em voga e sob a lei, por essas ruas citadinas,
onde os solitários mais míseros ainda passeiam um atenuador cão, vá lá!,
para o colocar, ao dejecto, no lugar prescrito para tal.
Mas não. Foi um acto amoroso. Foi uma condescendência submissa.
Rompeste a barreira do encantatório temido e vieste aqui
e eu tive pena e orgulho: pensei que o facto de declarares não gostar de mim
era a antipaxião apaixonada que melhor me convinha.
Pensei que dar-te antena e permitir-te a hemorróida moralóide altiva
contribuiria para a completa caracterização indirecta da tua feminilidade equivocada.
lkj
E assim foi.
Porque tudo é ofensivo e excessivo
a quem se plastificou e desumanizou: quem pretende manter o nível,
esse filho da puta que se interpõe ao que somos e nos atropela no que somos,
quem preferir a monocordicidade repetitiva e estereotipada ao rasgão e ao fim das tretas,
quem não consegue filtrar de isso outra coisa que isso,
pode realmente ir para a puta que o pariu como quem vai para o Céu dos Animais,
um lugar celeste para quem ficou isento de raiva, de inveja, de peste, de ódio,
de desequilíbrio, de misantropia, de misoginia, de cansaço desta humanidade injusta e cruel,
isento de fúrias, isento de fodas grosseiras, isento de excessos, isento de bebedeiras,
isento de ter sido homem, de o ter assumido. Prefiro o Céu para os Homens,
essa promessa indelével, rasgada pela crassa estupidez Republicana e Racional vigentes,
onde ainda há espaço para falhar clamorosamente sem quaisquer descomposturas divinas.
çlk
Ai dos que nos confinam pelo que dizemos.
Confinar-nos-iam em tudo o mais.

Comments

quintarantino said…
Fellini, por razões óbvias, limito-me a sair de mansinho antes que alguém tope que me estou a rir às bandeiras despegadas!
Ó caralho dum homem, ó carago!
Pata Negra said…
Eh pá! Não sei o que se passa! Tamanho verbo?! Porquê? Para quê?
Para ler? - Pronto, se é por esse prazer já vale a pena, ó Joshua, ó homem que cagas as palavras perfumadas que me agradam, nem que seja só por me provarem que as palavras escritas ainda têm muito para dar!
Força Paulo, avança, estou contigo!
Tiago R Cardoso said…
Subitamente alguém me perguntou :

"o Joshua está muito sossegado, o que se passa ?"

Respondi : "Achas ? Vamos ver."

Porra, se isto é sossegado o que será em actividade...

Já falei contigo pessoalmente e disse-te a minha opinião, olha que aquilo é para se fazer...
antonio ganhão said…
Bolas, o rapaz está bravo.

Mas isso não é forma de tratar uma senhora!
Robin Hood said…
Joshua, Joshua, acalma-te meu Filho, tudo o que tu vês são ilusões.
Sirvo-te um café forte e sem açucar no Cadeirão da Malta porque gosto de ti e sei que a Miss Sniqper te tira do sério.
Patrícia Grade said…
Joshua,

Eu tenho sempre um enorme prazer de me sentar a uma mesa só de homens... sempre fui uma contestatária!

Disse-te há uns posts atrás que foi a Sniqper que me fez sentir atraida por ti? (salvo seja, que é das palavras que falo!)
Pois é, um ódio de estimação tem sempre à espreita o seu contra-forte, nunca ficamos muito longe do amor desmedido, não é?
E depois... nos dias que correm, se não abanarmos e formos abanados, que graça terá a vida?

Continua Joshua Dali Rex

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