NAS CINZAS DE S. VALENTIM


Quando a vida se transmigra para a posta,
pode acontecer a mais tocante e vivificadora literatura.
Tal é o que surpreendo nesta, admirável, de Eduardo Pitta,
que evoca longinquamente aquela alegria/felicidade essencial
da crónica já clássica de Baptista-Bastos A Casa dos Beijos:
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«Ontem, naquele [jantar] onde estava,
apareceu um casal muito jovem (nem ele nem ela teriam ainda 20 anos),
notoriamente pouco sofisticado, absolutamente outsider,
cuja presença provocava forte contraste com o resto da clientela.
Surpreendido, mas imperturbável, o staff da casa tratou-os como é de regra,
ou seja, do modo como trata os habitués.
Os miúdos beberam cerveja, pediram duas entradas,
e mandaram dividir (o que a casa, em princípio, nunca faz,
tendo feito desta vez sem resquício de hesitação)
o prato principal.
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O extraordinário à-vontade de ambos,
a genuína boa disposição, o brilho nos olhos,
os rituais “guerreiros” — cada um picando o braço do outro com o garfo respectivo —,
o riso franco, as doses homéricas de pão que se sucediam,
a sobremesa que não pediram e alguém mandou oferecer, alegria, alegria mesmo.
Foi bonito ver. Quantos dos presentes não terão visto a sua vida em flashback,
num tempo em que São Valentim não era tido nem achado?»

Comments

Bernardo Tome said…
Como soubeste do meu blog? Abraço

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