ESTRANHO TORPOR


Um estranho torpor acomete-me agora.
Não sei o que seja. Não sei de onde venha.
Corre-me nas veias um sangue de lesma nesta hora.
Evanesceu-se-me o estro hercúleo.
Evolou-se-me a ira no verbo e a verve da ira.
Pausei de fulminar infrahumanos com a minha frase de génio negro e alvinitente.
Sinto-me esmagado agora mesmo por causa de Portugal.
O Labyrinto está pronto. É Portugal.
O Presídio está pronto. É Portugal.
lkj
Só ele é Symbolo ataráxico esmagador da verdade e aglutinador do bovino em toda a gente,
só afinal Portugal o é. E porque me oprime isto, desejo morrer.

A verdade é que a vontade de morrer e então, sim, poder ser um Grande Poeta Falhado,
toma conta de mim e só poderá ser o melhor caminho para mim nesta hora.
Comparado a morrer e depois ser Grande, de que me valem outras lutas nobres e isoladas?
Comparado a ser pasto da vérmina já a seguir, (morrer é rápido, não custa nada
e poupar-me-ia a mais um Orçamento Geral do Estado ou à Procissão da Credibilidade,
esse fungo, no PSD da Vecchia Signora Lenta e de Leite),
mas poder ser um Enorme Poeta Português Falhado,
de que me serve ter razão e andar a pregar neste areópago infinito sine quorvm?!
lkj
E esta hora fatigada esmaga-me sinceramente.
Estou demissionário de estar vivo.
Estou demissionário de continuar vivo
na grande luta pelo Português Pessoa Digna em Portugal.
A única Pessoa em Portugal é o Estado amigo das Empresas
e as Empresas amigas do Estado, a única pessoa é a que, nada produzindo, nada criando,
apesar de tudo nada numa piscina de dinheiro: o dinheiro das sinecuras, mordomias, e favores,
o dinheiro das derrapagens das grandes obras públicas,
Só aí há vida e a vida conta e flui magnífica.
lkj
Por isso mesmo preciso aceitar morrer de desgosto e de câncro desgostoso
por este luminoso Portugal depoente onde nunca houve Homens-a-Sério
e por isso mesmo nunca pôde haver Revoluções-a-Sério,
só pôde haver Inquisições-a-Sério, eliminação a sério, programática
e sistemática, de padres ou de comunas,
só pôde haver PIDES-a-Sério,
e só há espaço para haver a presente Democracia-Tirânica-PS-a-Sério,
que pratica o respeitinho e a coacção aos cidadãos indignados,
que se associou ao Poder Extremo onde quer que ele em Dinheiro exista,
que é de um Controlo Mediático Sem Paralelo e Sem Precedentes,
que tem uma corte de comentadores afectos muito bem pagos para não perturbarem um cisco
(de Vital Moreira a Vital Moreira, passando por Emído Rangel e outros desumanos babantes)
que tem como porta-voz um homem, Vitalino, que é o Pocoyo da Política Ciclópica,
o Noddy e o Ruca da Política Controleira em Portugal,
um Estrunfe Resmungão, o Cabeça de Bebé Exagerada e Adulto,
agarrado aos múltiplos biberões do Poder
numa choradeira insuportável!

Comments

Tiago R Cardoso said…
isto é de uma poesia complexa, que vai-me deixar aqui umas horas a ver isto tudo.
Joaninha said…
Detesto quando me fazes isto.
Pronto lá vou eu ter que ler varias vezes! :)

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