DO OSTRACISMO


Se alguém leu que te insultei, se alguém declara que fiz da tua caixa de comentários
um vazadouro e nele fui a cloaca que se abriu; se alguém considera que sou hipócrita,
que uso de dois pesos e de duas medidas, consoante seja na casa minha ou na alheia,
sendo que abuso na liberdade de expressão na casa alheia
como se não usasse e abusasse na minha;
se alguém de repente descobriu o quão desagradável eu sou,
e brusco, e inamistoso, provavelmente faço mal em ser poeta
e faço ainda pior em ser dissonante. Mas é da minha natureza ser as duas coisas
confessada e declaradamente. E já nos conhecemos há um ano completo e dobrado
para saberes que sempre fui assim.
lkj
É da minha natureza por vezes provocar e chocar um pouco ou bastante,
levantar a lebre, criar indisposição e ruptura, devolver a cada qual
a perfeita e acabada ERC que está no coração e na mente de toda a gente
e com a qual querem admoestar-me e corrigir-me com uma boa sessão de ostracismo,
de moral e de bons costumes proibitivos, conforme à boa tradição portuguesa
de abafar expressividades excêntricas.
lkj
Viste o efeito, Tiago?! Não podemos estar amargos, se estivermos amargos.
Se quiseremos explodir, não o podemos fazer, temos de nos conter;
se pensarmos assim, convém que digamos assado
para não termos muitos problemas sociais.
Até o meu amigo Tarantino quis flagrar-me a terrível inconsistência no que disse,
até o meu caro Couto leu que te ofendi e brutalizei,
que te violei por assim dizer o corpo virtual
que é o blogue na sua nova cara.
lkj
Ter maneiras! Como é importante ser civilizado e ter maneiras, pois.
Para eles, não soube sentar-me à tua mesa e remeter-me à mera posição de comensal, grunhindo assentimento e satisfação, sem tomar a palavra e discursar
que era o fim do mundo, que os lugares-comuns magoam e estragam
na contundência das rotinas. Tinha de o dizer como se fosse outro
e não eu a dizê-lo.
lkj
Sim, sou presunçoso tanto quanto Miguel Angelo podia e, se não era,
deveria ser presunçoso. Sou irascível e destemperado ao escrever,
claro que sim. Sim, mostro que a palavra é a mesmíssima arma
que entra pela Escola adentro e produz deplorável dano,
mas é também a bênção mais poderosa do Cosmos
e é bom que a reconheçam quando a lerem ou ouvirem,
em vez de se deixarem engolfar mais e mais na indiferença
e na incapacidade para Reconhecer o Milagre, quando ecluda.
khj
Pelos vistos, só o Marcos entendeu a minha violência que o não é,
porque falou no único consolo para quem escreve, que é escrever e nada mais,
porque já viu como certo tipo de teatro leva bem longe o transe da representação
do absurdo, da violência, da dor e da angústia para que um público mais experiente
aprenda a separar O QUE NÃO DEVE SER UNIDO: a Expressão da Substância,
o Expresso daquele que exprime, o Artista.
lkj
Mais uma vez, apressam-se as multidões a sacrificar o Todo
pela noção imperfeita que têm da Parte. Perdoai-lhes, Senhor.
E tu, Tiago, que bem me conheces e perfeitamente me entendeste
[escrevo isto como se diante da estátua de um Santo],
espero que lhes perdoes também.
lkj
Eu, que não sou de ferro, e já vi e sofri muita injustiça e crueldade na vida,
já lhes perdoei a desleitura desleal bem como o ostracismo adjacente,
magnificamente orquestrado, lembrando as lideranças modernas, puta que as pariu!
Este povo é perito em golpes de estado e em manobras de bastidores, já sabes!
Quem desalinhar da formatura ou ameaçar eclipsar a conjuntura favorável, está fodido.
Nos parlamentos, na vida, nos blogues. Ser indivíduo é árdua tarefa.
Mais fácil é ser redil, nascer, viver e morrer redil. Há que resistir.
lj
Hasta la victoria, siempre!

Comments

Patrícia Grade said…
Hasta la victoria Comandante!

Rex... reitero o que deixei ao Tiago, o nosso caminho é feito pelos nossos pés e tens razão, a blogosfera é muitas vezes o vazadouro de tristezas e comiserações e também palco de pancadinhas nas costas em forma de palavras.
Acredito no verbo como limpeza de angustias, afinal foi assim que soltei as minhas lágrimas e impedi uma caixa de comprimidos de chegar ao estomâgo...
Não sou é capaz de acrescentar lágrimas às lágrimas dos outros, não vejo com complacência a tristeza, acredito que o tempo não pode ser perdido em auto-comiseração. Bolas! Eu não acredito em depressões, acredito sim que temos o nosso lado negro e que por vezes esse é o lado mais imponente. Mas como em tudo, do outro lado está sempre o nosso lado luminoso e é esse que procuro sempre.

Não estejas deprimido amigo, porque sei que não estás. Não acredito que com a tua verborreia haja depressão que resista.
É assim o verbo, tem destas coisas... afasta o negro de dentro de nós.

Perdoa-me a intrusão, sei que nunca me sentei à vossa mesa a partilhar o bem fadado do polvo nem sequer troquei convosco palavras ditas em voz alta, apenas aquelas que consigo escrever nas caixas de comentários. Temos uma relação de reacção, nada de acção... por isso te peço que me perdoes pela flagelação verbal, por esta pedantice instalada de quem pensa que conhece só pelo que lê e nós sabemos (porque vivemos o que escrevemos) que nem sempre as nossas palavras são realmente quem somos, não é assim?

Perdoa e passa à frente, se quiseres. Esta maldita diarreia verbal que me tem acometido ultimamente há-de acabar mais cedo ou mais tarde. Por agora, tem lá paciência...
Anonymous said…
Eu vou vestir a camiseta coma cara do Che Guevara e vou para o ginásio!
Pode não um "hasta la victoria, siempre", mas será seguramente um "hasta la transpiracion, siempre"!

No resto, sabes que mais ... hoje não me apeteces.
Não estou com paciência para desfiar cada uma das tuas linhas, nem para te explicar que se não tens espírito de "non-sense" ou de humor, não há que se faça.

Isto porque fui um dos visados num daqueles comentários que depois transformas em "post" reactivo.

Se houve um que te percebeu, ainda bem!

Quedar-me-ei silenciosamente na galeria dos asininos.
joshua said…
Indómita, eu também sei ser impróprio para consumo e isso de irreprimível boomeranga-me todo depois.

Tarantino-Ferreira-Pinto, compreendo-te e acato. Durante muitos anos em Portugal havia um dia do bacalhau e o da sardinha dividida em três pedaços. Não sei como o aguentavam.

Tu desenfastia-te de mim o mais rápido que possas e ganha lá aquele apetite. Também preciso de ir ao fundo do meu poço a ver se recolho e re-bebo do humor e do non sense se calhar perdidos.
Joaquim Alves said…
Caro Joshua

Não estarás a complicar as reacções simples, tuas e dos outros?

Abraço
joshua said…
Lusitano, acho que a tua sabedoria diagnostica bem o meu mal e é um facto que complico. Sou, nesse ponto um dos supliciados que Dante viu na sua viagem fantástica aos nove círculos do inferno, aos nove círculos do purgatório e aos nove círculos do Céu. Passo muito tempo a espremer o pus, a remexer a ferida, quando seguir adiante é que é preciso.

Aquele Abraço
Anonymous said…
Estás a pedi-las ...

O que te quis dizer é que não me apetece explicar-te que estava na brincadeira quando escrevi aquela alfinetada lá na caixa de comentários do Tiago.

Como vês, eu fastio tenho a algumas coisas mas seguramente ainda não estás no rol.
Só não me apetece psicanalisar palavras.
Capice? :)
Anonymous said…
"o meu caro Couto leu que te ofendi e brutalizei, que te violei por assim dizer o corpo virtual que é o blogue na sua nova cara."

Caro Joshua,
nunca disse que o Tiago se sentiu ofendido ou brutalizado.
Quem assim se sentiu foi a minha pessoa por encontrar nas suas palavras aspereza que, no que a mim diz respeito, considerei de todo imerecida. Daí a minha indignação. Daí a minha explosão.
Não foram as dores do Tiago que me aferroaram. Foram as minhas.
Por mim pode exercer o seu direito de opinião, aqui, na sua casa, na minha, enfim onde muito bem lhe aprouver. Disse o que senti.
Sou assim.

Abraço.
Anonymous said…
"o meu caro Couto leu que te ofendi e brutalizei, que te violei por assim dizer o corpo virtual que é o blogue na sua nova cara."

Caro Joshua,
nunca disse que o Tiago se sentiu ofendido ou brutalizado.
Quem assim se sentiu foi a minha pessoa por encontrar nas suas palavras aspereza que, no que a mim diz respeito, considerei de todo imerecida. Daí a minha indignação. Daí a minha explosão.
Não foram as dores do Tiago que me aferroaram. Foram as minhas.
Por mim pode exercer o seu direito de opinião, aqui, na sua casa, na minha, enfim onde muito bem lhe aprouver. Disse o que senti.
Sou assim.

Abraço.
Anonymous said…
"Além de pensarem que temos estado zangados, pensaram que tratei mal o Tiago. Puta que periu, que fui ostracizado novamente"

Quanto a isto digo:
Não foi o que pensei.
Não foi o que disse.
Não ostracizei ninguém.

Cumprimentos.

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