APÓS O ESCÂNDALO, A INCONSEQUÊNCIA

Não esperamos outra coisa que a indignação de Alegre e de outros interventores democráticos privilegiados os quais, com todos os defeitos e fragilidades humanas que possam ter, simplesmente não toleram atropelos, como os da IGE em Fafe, a valores humanistas fundamentais. O problema é que por muito que se indignem, por muito que por força das evidências as devidas desculpas se derramem depois e mesmo a sociedade pareça acorde num só parecer condenatório, não haja quaisquer tipo de consequências que exprimam um repúdio exemplar. No fim de contas, todos reconhecemos em Condoleezza Rice e em Dick Cheney responsáveis espirituais pela adopção do waterboarding, por exemplo, e não os administradores directos de tal tipo de sessões inumanas autorizadas. Embora só tardiamente responsabilidades tenham sido apuradas porque Rice e Cheney foram salvaguardados da exposição pública condenatória enquanto ainda em funções, seria de esperar que todas as consequências fossem extraídas e todas as explicações para o waterboarding fossem prestadas. Daí que nos devamos questionar sobre se não serão os permissores e autores morais de uma tal abordagem pidesca em Fafe, e não propriamente ou em exclusivo um dado inspector que a operacionalizou grotesco, a merecer uma vez mais censura com respectiva extração das devidas consequências. E redijo 'uma vez mais' tendo em conta o já longo rol de trucidações valorativas e atentados morais na Escola por parte da Tutela de que os Movimentos de Professores e os professores individualmente dão abundante conta. Censura dos cidadãos, assunção de responsabilidades, consequências [ou alguém se demite ou é demitido]: é assim que em Democracia se aplaca um povo ultrajado e se supera um abuso, um excesso, uma ofensa aos cidadãos. É assim numa Democracia que funcione. Não é algo, porém, que se possa esperar num Regime moralmente pestilento, adiantado num triste espectáculo decompositivo: «A ser verdade, o caso “é um atentado à liberdade, ao espírito da escola pública e à constituição”, e demonstra que o dito inspector “enganou-se na profissão”. “Um inspector de Educação não pode agir como um inspector de polícia para incentivar alunos a denunciar professores e outros alunos”, reforça Alegre. A ser verdade, o caso “é um atentado à liberdade, ao espírito da escola pública e à constituição”, e demonstra que o dito inspector “enganou-se na profissão”. “Um inspector de Educação não pode agir como um inspector de polícia para incentivar alunos a denunciar professores e outros alunos”, reforça Alegre. O deputado-poeta aproveita para citar outro poeta e pensador: “Dizia Antero de Quental que mesmo quando nos julgamos muito progressistas, pode emergir dentro de nós um fanático e um inquisidor. Eu espero que este fanático e este inquisidor não reapareçam no Portugal democrático, muito menos na escola pública.”»

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