A VELHICE DO PADRE EFÉMERO

Porque Fidel foi um adolescente rebelde, tirano e esquizofrénico, até se humanizar e amansar algures ante a mortalidade demasiado próxima de uma doença que quis superar, as suas palavras mais recentes não surpreendem: ok, admite que o modelo económico cubano já não funciona nem mesmo em Cuba, quanto mais poder exportá-lo. Mas isto ainda é admitir que funcionou, o que não é honesto. Sem rejeitar os ideais da revolución, concede que o Estado Cubano tem um papel demasiado pesado na economia. Sabe-o qualquer um. Belos tempos quando perseguia e matava livre-pensadores, transfugas marítimos, objectores de militância cívica, herejes da ortodoxia para a Felicidade! O papa comunista, patriarca da Coisa no sentido quer sanguinário, quer da linhagem hereditária, deu uma entrevista. Publicada pela revista Atlantic, foi uma conversa naturalmente com mais de 10 horas, após vários encontros entre um jornalista e o "ex-líder" cubano a convite deste. Fisicamente frágil, mas cheio de energia e acutilância mental, ele emite palavras de auto-absolvição à mesa do almoço, entre um peixe, uma salada e um copo de vinho, isto é, no meio da Simbólica Cristã Completa. E há bónus: um mea culpa pelo seu próprio papel na Crise dos Misseis, em 1962, quando sugeriu que a então ainda-não-extinta União Soviética lançasse um ataque nuclear contra os Estados Unidos. Mais de 40 anos depois, Fidel admite que não teria mesmo valido a pena. Claro que não! Quanta compaixão e complacência não moram num humilde copo de vinho fraterno e num peixe submisso e assado, mesmo entre inimigos?! Fidel, Padre Efémero do Comunismo, tem ânsias de Missa, prepara-se para as delícias celestes prefiguradas na generosidade do Padre Eterno, diva criança paciente à procura de todos os seus filhos.

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