ESSA DEVASTADORA PULSÃO SEXUAL POR DINHEIRO

Ainda que qualquer exercício exegético sobre a pessoa e o percurso de Duarte Lima seja ocioso e se inscreva no mediaticamente aberrante, agora que o Ministério Público brasileiro acusa formalmente o ex-deputado do PSD da morte de Rosalina Ribeiro, não se pode suster a Opinião Pública, por natureza, absolutamente intuitiva e experta nestas coisas sangrentas, nestes crimes de gatilho óbvio para si. A alma humana, sendo o iceberg gélido que é, igualmente na esmagadora parte submerso, obriga-nos a ponderar o papel devastador de personagens ocultas no pior do seu negrume, fortemente marcadas por uma irreprimível pulsão sexual por dinheiro, que as deforma, que as avilta. Pense-se no perigo que indivíduos desta casta representam para nós, cidadãos, especialmente os mais vulneráveis, já que os privilegiados convivem e traficam precisamente com os fortes deste mundo. Lima pode até ter aniquilado uma herdeira riquíssima, de repente nada mais que um empecilho entediante e cansativo no seu caminho. Outros, porém, sem dispararem um só tiro nem meterem os pés pelas mãos no disfarce dos vestígios, no apagamento trapalhão das provas, na confusão dos itinerários comprometedores, aniquilam e colocam de joelhos uma sociedade inteira, sendo a profunda desonestidade de base, o mau carácter, associados a uma cupidez desmedida por dinheiro, os catalizadores perfeitos do crime. Rosalina foi morta num ápice, sangrou de uma só vez, abatida friamente, triste sina. Portugal, como uma enorme e misteriosa Rosalina, agonizou entre paliativos e mentirolas servidas pela mais requintada e requentada propaganda política pensada ao detalhe, arrastou-se, tombando especialmente ao longo de seis anos de marketing, entre sorrisos asnos e maviosos, sob um chuveiro de grandes cartazes promissores e ainda maiores anúncios optimistas de pão, farturas e circo, enquanto um hábil saque era perpetrado à sociedade portuguesa. Valha que ao menos Portugal agonizou em festa, com enormes fumos e pirotecnia, bons sapatos, sorrisos repletos de Estado Social e outros refrões cheios do sentido pífio do Zero vestido por Armani. Neste caso, há culpa, mas não há acusação. Nem culpado. Não foi ninguém. Foi a «crise das dívidas soberanas» com epicentro em Wall Street. E, pronto, está feito. Siga.

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