JORGE APALHAÇA JESUS

Jesus, enquanto treinador durante os jogos, recorda-me largamente o meu avô, adepto ferrenho do Valadares. Tornou-se um ícone na Vila porque se colocava invariavelmente por trás da baliza, seguindo todas as jogadas rangendo os dentes e simulando, com o corpo todo, todos os movimentos entre as quatro linhas, todas as quedas, todas as falhas, e imitando mesmo o guarda-redes em todas as defesas e impossibilidade delas. Sabe-se que insultava os árbitros, gritava, gesticulava, sofria e atirava o boné ao chão. Sabe-se que ria às gargalhadas por vezes: era um espectáculo dentro do suposto espectáculo de jogo. Mas o meu avô não era o treinador. Jesus é. Tem de começar a filtrar as figurinhas em que se coloca, a não ser que haja dois dentro dele, o Jorge e o Jesus. O Jorge é o adepto do Sporting sublimado em adepto do seu onze SLB de cada vez: e aí passa-se, descontrola-se, excede-se. Por sua vez, Jesus é o profissional que depois surge pachorrento nas conferências de imprensa, como um buda do futebol, como o mestre do Panda do Kung-Fu... tebol. Pois, mas a UEFA, mal ou bem, como todas as instituições poderosas e até certo ponto selectas e secretas, não perdoa ao Jorge. Ainda não descortinámos o que pensa de Jesus.

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