É OFICIAL QUE A GREVE GERAL AFINAL FOI PARCIAL

O direito à greve é uma hipocrisia politicamente correcta e uma inutilidade concreta. Nada mais obstaculizado e ao mesmo tempo esgotado em face dos desafios que o País enfrenta, para o que há que levantar a cabeça, corrigir desmandos, e resistir conforme se possa no grotesco contexto da III Grande Guerra Mundial [dólar/euro]. Não posso, quase ninguém pode, dar-se ao luxo de perder o salário do dia de bloqueio, portanto o direito é uma completa falácia e mais ainda quando se instituem processos artificiais de pressão e vigilância sobre a liberdade, igualmente um direito, de não fazer greve. Por outro lado, havendo esta massa de desempregados que alastra, como se faz greve em nome deles se eles são os excluídos e as vítimas primeiras de privilégios e prejuízos no sector empresarial falido do Estado endividado?! A greve íntima e pungente, que eu e milhares fazemos todos os dias, essa supera largamente a retórica nababa e integrada da UGT e a retórica cristalizada e oca da CGTP, na sua velhice e aldrabice subtis. Não acredito que tivemos, quinta-feira passada, uma greve geral. Sabe-se que se tratou de uma greve parcial. Na estação do Metro, Trindade, Porto, às 08:00h havia multidões compactas, silenciosas, aguardando o veículo que não vinha. Eu estava lá. Também eu fui essa multidão silenciosa, apertada, angustiada, gente para a qual não haverá jamais Justiça e, em grande parte, qualquer Esperança, gente para a qual uma Greve, por mais geral que se queira fazer crer, será sempre parcial, um completo atraso de vida, e, nos tempos horrendos que se nos abrem por força da volatilidade internacional, objectivamente obscena. Aqui chegados, cabe à UGT e à CGTP deixarem-se de merdas e de brincadeiras com as nossas vidas: se o Governo pode matar o doente com a cura austeritária, as centrais sindicais  obsoletas e lentas a reagir, inúteis a prevenir, incapazes de sinergias sérias de trabalho como nos países nórdicos sem retórica , também podem ajudar a matar o doente com uma transfusão drástica de cinismo quadriplégico.

Comments

Daniel Santos said…
Interessar. Quando a greve era contra Sócrates, levantávamos bandeira de termos uma democracia lubrificada e interventiva, agora é tudo uma hipocrisia... sinceramente, Joshua.

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