MÁGOAS DE UM ESCRITOR CAUDALOSO

Eu queria ser lido e amado. Mas isso não é automático nem simples nem sequer decorrente do muito talento que me outorgue. É preciso sorte. Talento e sorte. Muitos houve que morreram agarrados ao seu talento e sem sorte. Outros levaram para a cova a sua sorte sem talento. Quereria escrever caudalosamente, imparável, dia após dia após dia e matar com páginas repletas a fome da minha prole. Desgraçadamente, não há leitores em Portugal. Desgraçadamente, aqueles por quem escrevia, por cujo amor escrevia, não me suportavam as provocações. Deixaram-se ofender por mim como se uma carta com dois mil anos de que discordemos, mas maravilhosamente bem escrita, nos pudesse ofender as convicções e o amor próprio.

Imbecis. Agora tenho as minhas pernas enterradas até às virilhas no pântano da escrita pequena em forma de regato e desambiciosa. Escrever para quem?

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