O NOSSO EXCEDENTE PRIMÁRIO

Fica-se a pensar que sem a desgraça da dívida, sem o sofrimento colectivo subsequente, sem as imposições de empobrecimento e boa governança pública advenientes da Troyka, nada de virtuoso seria possível operar em Portugal: o Portugal medíocre, de crescimento anémico e dos sectores cartelizados, seguiria igual. Nunca este poderia aspirar a ser um País normal, enfiado na paralisia decretada pela Constituição, formolizado no bafio decrépito dos soares e dos alegres. Por baixo da crítica de Lains, há um elogio que é glorioso porque proveniente da base de aconselhamento económico-financeiro ao PS:

«... se o Estado português caminha para um excedente "primário", isto é, arrecada mais impostos do que o dinheiro que gasta, com excepção dos juros que tem de pagar pela dívida acumulada, então só precisa de financiamento para pagar aos credores passados e não precisa de financiamento para o futuro. Simples. Ora isso não quer dizer que não se pague a dívida: quer simplesmente dizer que o poder negocial do Estado aumentou. Incomensuravelmente [...] Mas uma coisa é mais certa do que muitas: à medida que o estúpido programa de ajustamento prossegue, diminuem os custos de fazer alguma coisa de diferente. A pressão sobre o Tribunal Constitucional tem de estar relacionada com isso, mas para o demonstrar ainda será preciso queimar mais algumas células cinzentas.» Pedro Lains 

Pois, os custos de fazer qualquer coisa de diferente, isto é, de derrubar o Governo, tornam-se cada vez mais diminutos, é verdade, mas o facto de isto andar na cabeça de alguma gente inteligente deveria fazer-nos pensar na esterilidade endémica dos nossos agentes políticos, no servilismo da parecerística económica, e nos óbices pesadíssimos que uns e outros estão dispostos a atirar para cima de nós ao menor faro a Poder.

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