FERIDO NAS TUAS PREDILECÇÕES

Alphonse de Lamartine
Aguardaste-o toda a semana.
Não te atrevias a ir a casa dele,
para não pareceres impaciente de lhe ser retribuído o almoço;
mas procuraste-o por todo o Quartier Latin.
Voltaste a encontrá-lo uma tarde, e levaste-o para o teu quarto no cais Napoléon.
O cavaco foi longo: expandiram-se.
Hussonnet ambicionava a glória e os proveitos do teatro.
Colaborava em vaudevilles não aceites,
«tinha montes de planos», fazia coplas; cantou algumas.
Depois, notando na prateleira um livro de Hugo e um outro de Lamartine,
alargou-se em sarcasmos sobre a escola romântica.
Esses poetas não possuíam nem bom senso nem correcção,
e não eram franceses, acima de tudo!
Vangloriava-se de saber a sua língua e debulhava as frases mais belas
com a severidade impertinente,
o gosto académico que distinguem as pessoas de humor folgazão
quando abordava a arte séria.
Ficaste ferido nas tuas predilecções; sentias vontade de romper.
Porquê não arriscar já a palavra de que dependia a tua felicidade?
Perguntaste ao rapaz de letras se podia apresentar-te em casa de Arnoux.
A coisa era fácil, e combinaram para o dia seguinte

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