SIRVA-SE DE UM CHARUTO

«Le Boulevard Montmartre, temps de pluie, apres-midi», Camille Pissarro, 1897
Hussonnet faltou ao encontro;
faltou a mais três.
Um sábado, pelas quatro horas, apareceu.
Mas, aproveitando a carruagem, parou primeiro no Théâtre-Français 
para obter uma senha de camarote;
fez-se conduzir a um alfaiate,
a uma costureira; escrevia bilhetes nas porteiras.

Por fim, alcançaram o bulevar Montmartre.
Atravessaste a loja, subiste a escada.
Arnoux reconheceu-te no espelho colorido em frente da sua secretária; 
e enquanto continuava a escrever, 
estendeu-te a mão por cima do ombro.
Cinco ou seis pessoas, de pé,
enchiam o apartamento estreito,
iluminado apenas por janela que deitava para o pátio;
um canapé de damasco de lã escura ocupava ao fundo o interior de uma alcova,
entre dois reposteiros do mesmo tecido.
Em cima da chaminé coberta de papelada,
havia uma Vénus de bronze,
dois candelabros, guarnecidos de velas cor-de-rosa,
ladeavam-na paralelamente.
À direita, perto de um arquivo,
um homem numa poltrona lia o jornal,
mantendo o chapéu na cabeça;
as paredes desapareciam debaixo de estampas e quadros,
gravuras preciosas ou esboços de mestres contemporâneos,
ornados de dedicatórias,
que testemunhavam por Jacques Arnoux a afeição mais sincera.
 Isso continua bem?  disse, virando-se para ti.
E, sem esperar pela resposta, perguntou em voz baixa a Hussonnet:
 Como se chama o seu amigo?
Depois em voz alta:
 Sirva-se de um charuto, em cima do arquivo, na caixa.

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